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«Situação económica e financeira do FC Porto é preocupante»

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José Pedro Pereira da Costa, Chief Financial Officer (CFO) da candidatura de André Villas-Boas às eleições do FC Porto, deu uma entrevista ao Jornal Económico, na qual aborda as contas da SAD e traça um cenário a todos os níveis preocupante.

As contas da SAD do FC Porto: «Eu não chamaria nebuloso. Penso que o retrato que as contas, se olharmos aqui um bocadinho para o último exercício completo, que terminou a 30 de junho de 2023, penso que se trata de um retrato negativo, mas que no fundo corresponde àquilo que é a nossa avaliação da realidade do FC Porto. Eu dividiria aqui um bocadinho as questões de principal preocupação. Nós achamos que a situação económica e financeira do FC Porto é preocupante. Diria que existe, em primeiro lugar, um problema económico na perspetiva em que o clube não tem conseguido gerar receitas que cubram sustentadamente os custos desta atividade e falamos aqui, sobretudo, de receitas operacionais e custos operacionais, incluindo também a componente de transações de jogadores, que é uma atividade ‘core’ de qualquer sociedade desportiva e, portanto, infelizmente, se olharmos para a trajetória dos últimos anos, tem havido um déficit operacional nesta atividade. Depois, existe um problema financeiro que decorre deste déficit operacional. Foi-se acumulando uma dívida financeira que é, neste momento, bastante relevante. Passámos de ser o clube menos endividado, há cerca de 10 anos, dos três grandes nacionais, para sermos o clube mais endividado. Temos uma dívida financeira que era superior, em junho, a 300 milhões de euros, cerca de 310 milhões de euros. Pois essa dívida financeira é uma dívida também cara e, portanto, gera encargos financeiros muito pesados, portanto, são encargos financeiros que andam na ordem dos 25, 26 milhões de euros por ano, o que, para uma sociedade desportiva, com 150, 160 milhões de receitas totais, de receitas operacionais, é um peso muito significativo. E, depois, finalmente, juntando a isto tudo, existe também, entendemos, um problema de tesouraria, porque o FC Porto tem vivido muito através de antecipação de receitas futuras, sobretudo na área dos direitos televisivos, mas de outros contratos também, menos relevantes em termos de peso, mas em que se tem feito também esse tipo de financiamento, chamemos de factoring, por receivables futuros, o que depois gera uma dificuldade no curto prazo, porque o clube, as receitas económicas que tem, já as recebeu no passado. Portanto, em termos de tesouraria, há aqui sempre um desbalanceamento, que depois é difícil de resolver e que leva a que o clube ande aqui, permanentemente, a procurar fazer milagres, quase para pagar os salários mês a mês. E, não tendo a informação completa, aquilo que nos vai chegando é que é um pouco esta a situação atual, que, na prática, é um desafio constante, no fundo, o cumprimento dos prazos de pagamento aos principais fornecedores. E depois, fazia aqui um parêntese, devemos voltar a isso um bocadinho para a frente, mas este tema do cumprimento de prazos, com as novas regras do fair play financeiro, é também um aspeto muito relevante. Não se trata só de ter capitais próprios positivos, a UEFA, neste momento, obriga a que haja um cumprimento restrito das obrigações fiscais, incluindo aqui segurança social, obrigações com os trabalhadores, nomeadamente com os pagamentos de salários a jogadores e funcionários, e pagamentos a clubes, tipicamente transferências de jogadores, e à própria UEFA também. E, portanto, atrasos nestas áreas geram o incumprimento das regras que podem levar, no limite, à suspensão das competições europeias».

Preocupação: «A administração recentemente assegurou que a 31 de março havia cumprimento das regras de fair play financeiro, mas não sabemos até que ponto é que isso é uma situação com algum conforto ou uma situação ali na margem que, com qualquer desvio, leva a que três meses depois já estejamos em incumprimento. Quer dizer, antecipamos que possa ser um bocadinho essa a situação. Até em face do que tem sido algumas notícias sobre viagens do administrador financeiro da SAD a Genebra, à UEFA, percebemos que existe ali um tema, que procuraram deixar os sócios descansados relativamente ao cumprimento, mas não temos a certeza, efetivamente, se há cumprimento. O que pode levar a que, com alguma atrapalhação de curto prazo de tesouraria, que entremos outra vez em incumprimento e com consequências que podem ser graves, uma vez que uma suspensão de participação de provas europeias é um rombo enorme em termos de geração de receitas. Mas, portanto, voltando um bocadinho às contas de 30 de junho, elas, grosso modo, refletem esta realidade. Portanto, um passivo de mais de 500 milhões, uma dívida financeira de 310 milhões, um resultado líquido que foi, nesse exercício completo, muito negativo. Se olharmos agora para os resultados mais recentes do primeiro semestre, já desta época, a 31 de dezembro, o que é que vimos? Vimos, essencialmente, uma melhoria dos resultados, mas que nós procuramos, naquilo que foi aquela sessão, no fundo, de análise dessas contas do primeiro semestre, procuramos desmontar um pouco, mostrando que, tipicamente, o primeiro semestre é sempre melhor do que o segundo semestre. Há uma melhoria sazonal. E, portanto, temos que aguardar pelo segundo semestre para perceber se encaminhamos este exercício para um exercício positivo ou, outra vez, para um exercício ligeiramente negativo ou neutro. Portanto, os 35 milhões de resultado líquido positivo apresentados não têm, para nós, um grande significado porque, tipicamente, os resultados no primeiro semestre são sempre bons. Acresce que houve também a contabilização de uma venda elevada, que foi a do Otávio, também neste primeiro semestre, portanto, que também foi um bocadinho… ajudou a compor os resultados. E, depois, relativamente ao tema dos capitais próprios, registou-se, neste primeiro semestre, aquela operação de reavaliação do estádio, que levou a uma… que nós chamámos um pouco de cosmética contabilística porque, na prática, não pondo em causa a legitimidade dessa reavaliação, porque, enfim, acreditando que os pressupostos tenham sido pressupostos razoáveis e, depois, foram eles validados por uma entidade externa independente, pelos próprios auditores, portanto, não colocando em causa a legitimidade da reavaliação, o que colocamos em causa é um bocadinho a ideia falsa que procura transmitir de que a situação está resolvida. Portanto, parece que, por termos, de repente, os capitais próprios positivos com uma operação contabilística, que o FC Porto já não tem problemas financeiros, o que não corresponde, minimamente, à realidade, uma vez que a dívida permanece exatamente igual, portanto, não houve entrada de caixa e, portanto, a dívida é a mesma, o passivo também continua igual e, para além disso, também outras questões que, inclusivamente essas, poderiam ter sido um bocadinho um motivo para esta operação, mas as quais também não conseguimos entender na sua plenitude. Portanto, isto acaba por ser uma operação um bocadinho cosmética para, no nosso entender, tentar iludir os sócios, tentar que os sócios acreditem que a situação financeira está resolvida, quando minimamente não teve impacto nenhum. Portanto, as tais questões que referia no início de algum desencontro de opiniões têm mais a ver com isto e com as contas deste primeiro semestre apresentadas porque, no restante, diria que as contas refletem a situação financeira e económica global do clube e que mostra um retrato de preocupação».

Viabilidade financeira: «A nossa candidatura tem procurado apresentar aqui um pouco os caminhos para a viabilidade financeira. Dentro destes caminhos para a viabilidade e sustentabilidade financeira, há aqui um bloco que incide exatamente sobre potenciarmos receitas. As receitas dividem-se em três grandes categorias. Primeira categoria: participação de provas UEFA, representa cerca de 40% das receitas totais. Não nos parece que exista aqui grande potencial de melhoria. Se conseguirmos manter o que temos, seria excelente, uma vez que temos tido boas participações na Champions League. A curto prazo é muito provável que não venhamos a participar na Champions League e, portanto, até teremos aqui um desafio de termos uma quebra forte neste primeiro exercício, na próxima época, de 24/25, relevante, mas, portanto, essa área, participação de provas UEFA, 40% das receitas totais, não nos parece que existe aqui grande potencial; Segunda área: direitos televisivos. Estão vendidos até 2028 e, portanto, o contrato está fechado, não há qualquer margem de melhoria destas receitas, pelo menos no curto prazo; Terceira área: onde estão todas as receitas comerciais, que incluem a bilhética, que incluem as áreas corporate, os camarotes, inclui a publicidade, é exatamente a área que vai entrar dentro desta subsidiária. E é onde nós achamos que existe mais potencial de aumento de receitas e, portanto, preocupa-nos que o clube, não tendo essas receitas potenciadas, estando numa fase em que tem que fazer algum investimento para melhorar, no fundo, essas receitas, esteja a ceder a um terceiro 30% dessas receitas, ou 30% dos resultados dessa atividade, quando é uma área em que as receitas e os resultados podem seguramente aumentar e, portanto, até que ponto é que está a ser feita uma correta valorização destes 30%».

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